O SinergiaK conversou com o assessor parlamentar Renato Donizetti Violardi (foto), que é filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) desde 2007, sobre as atuais circunstâncias políticas, a importância de entendê-las e cumprir nossos deveres cívicos. “O Brasil tem uma democracia ainda jovem. Muitos erros foram e são cometidos, tanto pela classe política, quanto pela própria sociedade, que, com o voto, elege esses mesmos políticos”, disse Renato. “O caminho nunca é simples ou fácil, mas depende de cada um de nós”, completa. Confira, abaixo, a entrevista na íntegra.
SK - Nos tempos de hoje, onde a política não é bem vista pela sociedade, você acha que o papel do político, de contato entre a sociedade e o governo, tem se perdido?
RV - Não creio que esse contato esteja se perdendo, nem que haja um distanciamento da sociedade e governo. O que ocorre, acredito, é uma falta de interesse da sociedade em acompanhar o mandato do político. O canal entre governo e sociedade sempre existiu e permanece aberto. Com o avanço dos meios de comunicação, tornou-se mais fácil acompanhar uma notícia ou a atuação de um político pela internet, do que falar pessoalmente com esse mesmo político. Minha opinião é que passou a haver um certo desinteresse, um certo comodismo da sociedade em se engajar, mas quando ela, a sociedade, quer alguma coisa e se determina, se empenha, as coisas acontecem. A Lei da Ficha Limpa é um exemplo recente. O que precisamos é assumir a responsabilidade. Se queremos políticos melhores, se queremos um canal mais direto, aberto e próximo do governo, precisamos ter uma atitude diferente, uma atitude de maturidade que, infelizmente, não temos mostrado. O voto é o meio de darmos esse sinal, que será entendido pelos políticos, pelo governo e pelos estudiosos da política. O voto é o instrumento e a forma de mostrarmos satisfação ou não com o político ou o partido político, com o governo e com a oposição política ao governo. O voto deve ser estudado, ser comentado, discutido e deve ser responsável. O voto tem um valor muito alto, que não pode ser mensurado monetariamente. A sociedade é a grande, a maior responsável pela qualidade da política e os políticos que temos são o nosso retrato, imagem do interesse ou desinteresse da sociedade pela política. É a sociedade, através do voto, quem dá a legitimidade aos políticos e a dimensão do tamanho do contato entre a sociedade e o governo.
Hoje a maioria dos políticos está mais interessada nos status, dinheiro e autopromoção do que em realmente trabalhar pela sociedade?
Não tenho qualquer dúvida que, hoje, a maioria - não todos, mas a maioria - acha que a política é uma profissão: bem remunerada, com muitos benefícios e vantagens, que podem se dar bem intermediando algumas obras ou contratos públicos. Isso faz parte da visão geral da sociedade sobre os políticos e é a linha mestra de conduta de alguns que se dizem políticos. A política não é profissão: é uma missão. A missão de levar esperança às pessoas. Muitos políticos trabalham pela sociedade em tempo integral. É uma minoria que, aos poucos, tem aumentado, mas continua sendo uma minoria. Creio que seja fundamental o envolvimento da sociedade, para que esses, que se dizem políticos, não façam mais parte da nossa política.
O que acha de políticos que, como o Gilberto Kassab, criam novos partidos para fugir da punição de infidelidade partidária? Vê a atitude também como uma forma de mascarar a corrupção?
Kassab usou a própria lei para criar o PSD, ou refundar, como ele mesmo diz. Não creio que isso, a criação de um partido, tenha relação com corrupção. A criação de um partido esta cercada pela legalidade. Está na lei, está previsto no nosso Código Eleitoral e é acompanhado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Mesmo o político trocar de partido é legalmente permitido, se houver motivos que o levem a fazer isso. Se vai ser ter legitimidade, somente quando chegar a próxima eleição é que vamos saber.
O que julga ser necessário para entrar - e sobreviver - no universo político sem se corromper?
Acredito que, além de valores morais e sociais sólidos, o acompanhamento do político pela sociedade seja fundamental para que o mesmo não se perca, não deixe seus objetivos. Nada de "os fins justificam os meios". A sociedade, não só os eleitores, tem que fazer um acompanhamento cerrado do político, pois a corrupção pode chegar a qualquer momento e de diversas formas.
Em cidades pequenas, onde a política ainda se estende dentro de um sistema de coronelismo, realmente existe a oposição?
De fato, não. A oposição política deve ser entendida como modo diferente de pensar as políticas públicas, o oposto daquilo que é aplicado. Ser de partido político diferente, ou adversário político de quem está no poder, não pode ser confundido como ser de oposição. A oposição existe pelo fato de que, em todas as cidades, existem pensamentos opostos. Colocar-se como sendo de oposição à administração pública de uma cidade pequena pode fechar portas que beneficiem o vereador que usa de expedientes para algum benefício pessoal, como agilizar a marcação de uma consulta médica, um exame, a troca de lâmpadas em alguma rua. Cumprir o seu papel de fiscalizador das contas públicas ou apresentar um projeto de lei pode ser entendido como um gesto oposicionista, o que não é verdade.
O que se tem, então, são frentes que defendem uma briga ou disputa política meramente superficial, como um show ao publico?
Sem dúvida alguma. E, o que é pior, uma grande parcela da sociedade gosta desse tipo de "faz-de-conta". Questões relevantes, como a Lei Orçamentária Anual, Audiências Públicas, reuniões das Comissões Permanentes dentro de uma Câmara Municipal, Assembléia Legislativa ou do Congresso Nacional, que são os canais diretos de participação, tanto da sociedade quanto dos políticos engajados, não são acompanhados pela maioria. O mandato do parlamentar não é acompanhado pelos seus eleitores ou pela sociedade e, às vezes, para aparecer mais, normalmente próximo às eleições, uma parte dos políticos preferem criar situações que os deixe em evidência. Essa situação não traz profundidade a qualquer tema ou questão relevante. Credito uma parcela dessa situação à própria sociedade, que por vezes prefere ser enganada para tirar o peso de sua responsabilidade por ter ajudado a eleger esse tipo de político.
O que não podemos é fugir da discussão sobre o nosso papel, o papel de toda uma sociedade e de todos nós, enquanto indivíduos, agentes das transformações.
Se, ao elegermos um personagem, como o Deputado Federal Tiririca, queremos protestar, devemos entender a dimensão que essa atitude pode representar no funcionamento do Congresso Nacional. O voto de protesto é inútil e perigoso. Uma irresponsabilidade que talvez ainda não compreendemos.
As transformações pelas quais passam a sociedade, refletem diretamente na qualidade da política e o inverso, também é verdadeiro.
Penso que a omissão, o "deixar para lá", é a concordância com a prática dos nossos políticos. O voto é, se não o único, o instrumento mais precioso e claro para dizermos "não" ao que está errado.
Quando nos damos conta do tamanho de transformação que o voto representa, passamos a questionar e exigir dos nossos representantes, uma atitude, uma posição, sem receio de criticar, ou de sugerir, debatendo os problemas e encontrando juntos, as soluções.
Já houve muitos avanços, nesse sentido. Hoje se tornou muito mais fácil qualquer pessoa fiscalizar o poder público, com a Lei da Transparência dos Gastos Públicos, com a Lei de Responsabilidade Fiscal e, atualmente em discussão no Congresso Nacional, a Lei de Responsabilidade Eleitoral. As Organizações Não Governamentais de acompanhamento político, como o Movimento Voto Consciente, Transparência Brasil e AMARRIBO, entre outras, tem desempenhado um papel fundamental na ajuda de criar uma consciência de cidadania. mostrando que todos nós temos direitos e responsabilidades. Enfim, o caminho nunca é simples ou fácil, mas depende de cada um de nós."